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Iniciando nossa viagem...

  • GMA PescArte
  • 14 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

A bússola desse projeto que desenvolvemos junto ao Grupo de Modelagem Avançada da Universidade Federal de Santa Catarina, o PescArte (GMA/UFSC), aponta seu norte para o nosso encontro com as comunidades pesqueiras deste litoral. As nossas atividades junto a esta ação envolveria diversas visitas de campo, entrevistas, registros fotográficos, levantamento de dados e vivências da nossa equipe no seio desses locais. Dessas experiências se originariam leituras de paisagem muito ricas e carregadas de diversidade, saudade, resgate e encontro. No entanto, a pandemia adiou a nossa viagem e nos fez atirar uma garrafa de vidro com uma mensagem em pergaminho dentro, pra bem longe da beira da praia. Com isso, reinventamos a nossa deriva, pois não queremos adiar o fato que, por meio do nosso trabalho, a voz da vez é a do pescador.

A mensagem que escrevemos dentro da garrafa, começa a ser contada hoje, e só termina quando conseguirmos encontrar, olho no olho, o pescador que jogou a rede no mar e trouxe com ele pra casa, a nossa garrafa. Até que possamos sair por aí atrás desse pescador e perguntá-lo, pessoalmente, o que ele achou da nossa história, vamos seguindo por esse mar de ondas virtuais. Mesmo que ainda não aconteceu, já deixou saudade. Porque entre as nossas redes digitais e as redes dele de pesca, no final a gente tenta só traz “pra casa”, aquilo que desperta curiosidade, ou faz o nosso olho brilhar. Às vezes, a gente tem saudade do que não conhece, ou que a gente sabe que já aconteceu, mas não ficou, ou ainda, se parece ser algo que vale a pena abrir pra ler. Então abriremos os nossos olhos sensivelmente e leremos tudo que pudermos da paisagem, da cultura da pesca, da arte e das memórias.

Nesse período de isolamento social, estamos contando com softwares de imagens via satélite como o Google Earth, para viajar por cidades com comunidades pesqueiras de forma virtual. Partiremos nesta viagem buscando uma abordagem visual destes lugares, na tentativa de reeducar o olhar para coisas que não são tão facilmente avistadas, criando novas reflexões por meio destes olhares. Nossa primeira viagem será feita aqui pertinho, em Florianópolis, Ilha de Santa Catarina, na praia da Barra da Lagoa, comunidade que já visitamos pessoalmente, mas visitamos de forma online novamente, para fazer esta reflexão.

Logo na região do iniciozinho da Barra da Lagoa, após passar a ponta do canal, já dá pra ver a exuberante paisagem natural dessa praia, que encanta demais. Vemos essa vegetação de copas altas, verdes e volumosas e um límpido azul no céu, que numa brincadeira se misturam, nos dando um belíssimo azul-esverdeado nas águas do mar e do canal, dividindo olhares e histórias com a comunidade de pescadores que ali vive. Uma vila de pescadores é facilmente identificada com alguns elementos: barcos, redes, caixas de pescado, ranchos e até mesmo o cheiro de peixe na brisa do mar, que pelo Google Earth, a gente não sente, mas fecha os olhos e imagina que deve ser bem caprichado, mas que quem vive ali parece tão acostumado; Além disso, se percebe que essa praia guarda também um patrimônio imaterial em suas tradições, memórias, na arte de pescar, nos conhecimentos empíricos sobre a maré e ventos, e na luta pela permanência e a resistência dessa cultura que é o berço do povoamento da Ilha de Florianópolis. Às vezes, essa resistência de quem insiste em ser sempre presente embora seja tão passado, é esquecida ou passa assim, meio desapercebida entre o nossos olhos.

Ao passar por ali, sempre se dá de cara com os barcos, que são marcos deste típico cenário pesqueiro. Barcos das mais saturadas cores e diversos portes, que trazem estampados orgulhosamente em sua proa o seu nome. Qual será a história por trás desses nomes? São batizados com elementos marinhos “tubarão”, “estrela-do-mar”, alguns homenageiam filhos e sobrenomes de família neste nome, talvez seja para levar junto de si pro mar um pedacinho de casa em cada viagem.

Adentrando mais nesta vista, passamos por um cais de madeira, que abrigam as embarcações atracadas e dão espaço para as extensas redes de pesca, que descansam empilhadas aguardando algum reparo. Podemos também encontrar o pescador por ali, costurando essas redes, com nós apertados e certeiros, que muito dizem sobre pescarias de sucesso que arrastam do mar. Para cada nó um verso. Para cada verso uma história, que dorme no cais.


“Ê vila da paz

E também da paciência

Com as embarcações colorindo a praia

Pescadores com o coração cheio de amor

Pescando com paz espírito

Povo humilde com coração gigante

Praia deslumbrante com a vista marcante

Cada barco com uma história

Cada nó de rede de barco tem um nome

Cada malha de rede

Cada pescador com sua arte…”


E assim, ele segue, fazendo poesia sozinho no cais. Parece só mais um por ali. Mas hoje, ele vai achar a nossa garrafa. Isso porque, primeiro a gente achou ele, e viu que não era só mais um. Pra gente, ele pareceu ter muito história pra contar. E a gente quer ouvir.


Você quer?


Então a gente te pega no próximo cais.


Foto tirada na Barra da Lagoa, em novembro de 2019, por Sara Dotta.

 
 
 

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